quinta-feira, 12 de julho de 2007

A morte da Liberdade

A morte da Liberdade
por Hernâni Carvalho

Acordo e vejo José Eduardo Moniz na TV afirmando que os políticos têm de fazer uma reciclagem e uma aprendizagem da cidadania. Mudo de canal e dou com Francisco Pinto Balsemão em fortes críticas ao governo sobre a forma como está a ser tratada a comunicação social.

Torno a mudar de canal. Não encontro qualquer comentário de Almerindo Marques, o que é natural já que é nomeado pelo governo.

Aqui chegado, de duas uma. Ou acordei em mau dia ou a coisa está pela hora da morte. Da liberdade, está claro.

Deixo a TV e vou para o computador. Recebo a mensagem de um camarada de profissão que me aconselha a leitura urgente do Movimento Informação é Liberdade . Clico no acesso ao dito e descubro um movimento de jornalistas preocupados com a liberdade. O novo estatuto da profissão de jornalista vem de negro. A preocupação já assaltou a mente de mais de 400 profissionais, agora subscritores de um protesto . Na lista, encontro alguns dos mais sonantes nomes do Jornalismo português, a par de outros tantos que, não sendo conhecidos do grande público, alimentam diarimente o exercício da liberdade. Liberdade. Aquela “coisa” a que os menores de quarenta anos dão pouco valor, apenas porque não imaginam ser possível viver sem ela.

A Liberdade, é como a electricidade. Já nem imaginamos a vida sem ela. Só quando falha nos damos conta do quão espartilhados ficamos com a sua ausência. Há tantos anos que a temos que a damos por adquirida. E não está.

Já tinha visto uma secretária de estado a ensinar como e onde se podem fazer críticas ao governo. Já lera que um professor fora saneado e outro obrigado a trabalhar doente até à morte. E sabia da outra funcionária, exilada por não apagar umas críticas feitas a um ministro em tempo útil. Agora é o novo estatuto de jornalista que parece vir afinar pelo mesmo diapasão. Revoltam-se-me as entranhas só de saber quem cozinhou o novo documento. Antigos arautos da liberdade. Melhor dizendo, ex-arautos. “ex” porque já não o são. O pudor e a vergonha inibem-me de plasmar aqui o nome desses deputados. Já não defendem incondicionalmente a liberdade. Aprovam uma “coisa” que lhes aconchegue melhor o lugar.

Não estou a favor nem contra o governo (este ou outro), nem quero saber das divisões ou manipulações em curso no seio dos profissionais do Jornalismo. Sou pela Liberdade. Vou aderir ao protesto e agradecer ao meu camarada de profissão ter-me avisado que a luz pode faltar a qualquer momento.