Luís Filipe Menezes foi esta semana apanhado a plagiar, isto é, a copiar textos de outros autores e a apresentá-los como seus, no blogue que mantém na internet. É um episódio embaraçoso, pela apropriação alheia e pela mistificação que denota?
Não, de forma alguma, esclarece Menezes, «é uma questão irrelevante». Até porque quem fez as cópias dos textos não foi ele, mas um seu «colaborador na Câmara» que lhe dá essa «ajuda fora das horas de serviço, em casa».
O que revela que, afinal, estamos perante um duplo plágio. Luís Filipe Menezes, cujo nome aparece a assinar todos os escritos do blogue, plagia a dobrar textos já surripiados pelo seu colaborador. Muito ilustrativo.
Mas, para lá desta ‘questão irrelevante’, acreditem que vale a pena consultar o blogue de Menezes. Para apreciar a qualidade literária (e, já agora, a elevação política) dos seus textos. Os que não são copiados, claro.
O repetente candidato à liderança do PSD já nos habituara, por outro lado, a dizer uma coisa e o seu contrário. De acordo com os ventos que sopram e as conveniências de cada momento. Como há dias recordava no Público o social-democrata Castro Almeida, presidente da Câmara de S. João da Madeira, era Menezes quem, há um ano e meio, escrevia e desejava «longa vida à Ota».
Quem antes considerava «inadiável um pacto de regime entre os dois maiores partidos» e passou a criticar o pacto de Justiça porque esse tipo de acordo não diferencia o PSD do PS. Quem afirmou, em 2005, que não apoiaria uma candidatura do «prof. Cavaco Silva» e, agora, não se cansa de o apontar como exemplo a seguir. Questões irrelevantes, dirá Menezes com a sua insustentável leveza.
O que não deixa de ser curioso nesta conjuntura política, em vésperas de eleições directas no PSD, é o carinho e a simpatia que a figura de Menezes despertou subitamente em alguns meios socialistas e sectores da comunicação social, que até há pouco não lhe devotavam a menor das importâncias.
Os mesmos que abominam o populismo de Alberto João Jardim vêem no populismo secundário de Menezes um particular encanto político. Os mesmos que ridicularizavam a inconstância e a ligeireza política de Santana Lopes olham com tocante benevolência tais características no autarca de Gaia.
Menezes tornou-se, aliás, o representante do santanismo reciclado do PSD. Sem a aura partidária e o brilho pessoal de Santana. Mas com os mesmos fiéis de sempre: Marco António, Helena Lopes da Costa, Mendes Bota, Duarte Lima, Rui Gomes da Silva. Uma galeria de susto.
Publicado por JAL |José António Saraiva - director do "SOL"