O governo falhou. Propositadamente conjugo “falhou”, não “ está a falhar” ou “vem falhando”. Falhou! Na forma imperativa. Categórica. Sem retorno. Este governo já não tem tempo nem condições para inverter o que seja. Mais uma legislatura, como soe dizer-se, à vida. O prestidigitador- mor porque o é, engana, ilude... Mente! O ministro dito da economia secunda-o. Com menos jeito mas secunda-o.
Nos últimos dois anos a indústria portuguesa não se modernizou. É um número dizer-se que “a indústria” de um país se moderniza em 2 anos ou... em quatro. O ano passado, apenas 11% das exportações portuguesas de produtos industriais foram de alta tecnologia. As vendas de produtos básicos continuam a representar o grosso da carteira do comércio externo. Estes dados indicam que a indústria portuguesa está a passar da baixa tecnologia para a média- baixa "qualidade", mas nos últimos dois anos interrompeu o ímpeto para a modernização. O ano passado, Portugal vendeu sofisticação no valor de 3,33 mil milhões de euros e pela mesma categoria de produtos pagou ao estrangeiro cerca de 6,7 mil milhões de euros, cerca de 4,1% da riqueza gerada em 2007. Entre 2001 e 2006 as exportações de alta qualidade industrial aumentaram, em média, 4,7%. O grave é que no mesmo período (2001-2006), o peso dos produtos com baixo teor tecnológico baixou de 44,6% para 35,3% do total das exportações, uma redução anual de quase dois pontos percentuais. Encher a boca disto é o mesmo que encher pneus!
Nada de novo, portanto. É assim porque, em primeiro lugar, a luta contra a inércia, a guerra contra o status quo é tremenda, enorme, gigantesca... em segundo lugar, porque é necessário que haja vontade para a declarar e... fazê- la. Se a necessidade do primeira urge, é vital para a segunda, não encontraram os portugueses nos últimos vinte anos força, para tanto. Hão- de continuar a chafurdar no lameiro em que se atolaram por outros tantos. É que a nossa realidade continua a enfermar de todas ou das mesmas “maleitas” de sempre. Quem o revela, sem papas... é o que Henrique Neto nos conta «A empresa de baterias do Pedro Sena da Silva. A empresa pretendia fornecer as baterias para os submarinos e tem tecnologia e saber para isso. Mas as baterias acabaram por ser encomendadas pelo consórcio vencedor a uma empresa na Grécia. O governo português não mugiu nem tugiu. Acabou por a empresa grega vir a oferecer ao engenheiro Pedro Sena da Silva a montagem das baterias com uma mais valia relativamente elevada. A minha interpretação é que era uma forma de o comprar. Recusou. Há empresários sérios em Portugal... um segundo caso, este vivido pela nossa empresa. A empresa que vendeu os helicópteros, ou uma subsidiária ou uma empresa do grupo que os vendeu, comprava numa empresa do Norte um conjunto de produtos na casa do milhão e meio de euros por ano. Normalmente eram produtos de plástico. Um negócio bastante lucrativo. Acontece que a empresa fechou. Nós sabíamos que a empresa ia fechar e junto da comissão e junto da empresa demos nota de que nós estávamos interessados e que garantíamos os mesmos preços a que eles estavam a comprar. Pois a empresa que vendeu os helicópteros agarrou no negócio e levou-o para Itália. Eu escrevi e expliquei isto ao senhor ministro da Economia há seis meses e nem sequer respondeu. A única coisa que se pode fazer é contar isto a um jornalista para contar a história e os portugueses tirarem daí as necessárias conclusões.»(in CM)
É preciso mais?! não é! como também não é necessário para se saber que tudo continua na mesma contar outros. Que os há! por tudo quanto é sítio.
Sócrates que se tem revelado como um mentiroso compulsivo (reafirmo o que tantas vezes tenho dito – um político não tem de mentir!) disse, altaneiro, num dos debates mensais, Novembro, na AR que já havia sinais de que o investimento estrangeiro estava a recuperar. Eis os sinais:
Os lucros reinvestidos por estrangeiros somam 420 milhões de euros . O investimento directo estrangeiro em Portugal caiu, entre Novembro de 2006 e Outubro do ano passado, 4,6% em relação a igual período imediatamente anterior, de acordo com o BP. Mais de metade do dinheiro que entra em Portugal é para empréstimos ou suprimentos de curto prazo a filiais... uma fatia, ínfima, deste montante - pouco mais de 57 milhões de euros (0,16%) - foi aplicado na constituição de novas empresas. Entre Novembro de 2006 e Outubro de 2007 -, os estrangeiros retiraram do país mais de 24,5 mil milhões de euros, uma média mensal de dois mil milhões de euros. Entre entradas e saídas o saldo, positivo, chegou aos 4 mil milhões de euros, uma quebra de 18,4% em relação a igual período anterior.
Sobre as condições que não temos para aplacar previsíveis ondas de choque que aí vêm resultantes do arrefecimento da economia americana et pour cause da europeia (sem exclusivo da zona euro) é bom conselho ler-se, entre outros, a professora Teodora Cardoso «Portugal não cumpre nenhuma das condições que o tornariam elegível para a adopção de medidas orçamentais expansionistas: tem défices orçamental e externo significativos e um rácio de dívida pública alto e sujeito a uma forte pressão de médio/longo prazo em função dos encargos com transferências (pensões e saúde). Mais importante ainda, o país tem absoluta necessidade de prosseguir as reformas em curso para que a economia possa reentrar numa trajectória de crescimento e de criação de emprego... É geralmente aceite que os países com margem de manobra para o fazer – e esta mede-se sobretudo pelo equilíbrio ou excedente das contas externas – devem procurar compensar o abrandamento nos Estados Unidos estimulando a procura interna»
Entretanto, na vida prática, por onde se semeiam, tratam e colhem as melancias que hão- de comer, os pressupostos, as disposições legais são ignoradas, pacificamente. Um verdadeiro regabofe. Já me redimi quanto ao engano que cometi ao avaliar o presidente do Tribunal de Contas... se para outra coisa não serve, ao menos serve para que imprimamos estas fotografias - vale a pena ler (e registar) a Auditoria ao cumprimento do regime do art. 275.º, DL n.º 59/99, de 2 de Março e se mais paciência não houver – ou por efectiva falta de paciência e tempo ou por nojo, também acontece – reter apenas, às pags.7, as Conclusões e, aí, o 2.1- Quanto ao cumprimento da obrigação legal do art.º 275.º do DL n.º 59/99, de 2 de Março onde, por exemplo, está escrito que «em resultado das verificações efectuadas pelo Tribunal, pode concluir-se que não tem sido devidamente acautelado o cumprimento daquela disposição legal, por uma boa parte das entidades observadas para o efeito. Na verdade, num conjunto de 25 empresas públicas, apenas duas cumpriram integralmente, nos dois anos analisados, o estipulado na lei, o mesmo se podendo dizer do restrito grupo de 6 entidades da Administração Central Directa do Estado, onde apenas uma entidade observou adequadamente aquela obrigação legal.»
Dizem os brasileiros...Salafrários! e escrevo eu que, o termo, consta do Dicionário da Língua Portuguesa – 7ª Edição
Salafrário – patife; safardana; biltre; homem reles...
Escrito por David Oliveira
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
Ataque total – Pior que uma ditadura é viver em falsa liberdade
A movimentação da peonagem continua. Que o PS bem vai precisar da sua condescendência em 2008 e, mais ainda, em 2009.António José Teixeira para a SicN onde fará parelha com Ricardo Costa. José Fragoso da TSF para a RTP. A TSF não deixa de continuar bem entregue. Fernando Alves (que conheço dos bancos do liceu, do Rádio Clube de Benguela, do semanário O SUL e da Emissora Oficial de Angola) e Manuel Acácio (de que conheço o comportamento, no que a isenção jornalística respeita, nos fóruns das manhãs da TSF) por lá continuam. Paulo Baldaia do JN para a direcção da TSF. Jornalista sim. Assessor de Mário Soares e António José Seguro também já foi.
Já não pega "essa" de que se trata de insinuação torpe sobre a isenção do jornalista, do profissional apesar de... "essa" de não haver o direito de questionar o direito do jornalista ter direito à opinião... "essa" de que um jornalista é sempre jornalista. Há todos os direitos. Os deles e os meus. Como o meu direito de, fundamentadamente, não acreditar na isenção deles.
Escrito por David Oliveira
E já agora digo eu
E ainda há muito mais: só um exemplo. O comentador da TVI para assuntos económicos, António Peres Metelo, assessor de Mário Soares na campanha eleitoral das presidenciais (funciona como o OMO – lava mais branco cada vez que o Governo nos mete a mão ao bolso.
Reparem só na TSF. Quando havia greves nos tempos do Durão, fazia balanços ás sete e meia da manhã e na Voz dos repórteres já estava tudo parado.
Gora que houve as maiores manifestações e greves de sempre vão aos serviços onde há alguém a trabalhar e está sempre tudo bem. Que descaramento.
Mas a táctica funciona. Vejam só a “carrada” de gente que foi por atacado da TSF para a antena 1, desde o Bloquista António Macedo até à Poveira Eduarda Maio. É um ver se te avias, e o parolo que pague no recibo da luz. Mas enfim; cada povo tem aquilo que merece; ou então como diz um GNR que eu conheço; isto era começar a “varrer de uma ponta à outra”. Pode ser que um dia alguém perca a cabeça. Já faltou mais!
Já não pega "essa" de que se trata de insinuação torpe sobre a isenção do jornalista, do profissional apesar de... "essa" de não haver o direito de questionar o direito do jornalista ter direito à opinião... "essa" de que um jornalista é sempre jornalista. Há todos os direitos. Os deles e os meus. Como o meu direito de, fundamentadamente, não acreditar na isenção deles.
Escrito por David Oliveira
E já agora digo eu
E ainda há muito mais: só um exemplo. O comentador da TVI para assuntos económicos, António Peres Metelo, assessor de Mário Soares na campanha eleitoral das presidenciais (funciona como o OMO – lava mais branco cada vez que o Governo nos mete a mão ao bolso.
Reparem só na TSF. Quando havia greves nos tempos do Durão, fazia balanços ás sete e meia da manhã e na Voz dos repórteres já estava tudo parado.
Gora que houve as maiores manifestações e greves de sempre vão aos serviços onde há alguém a trabalhar e está sempre tudo bem. Que descaramento.
Mas a táctica funciona. Vejam só a “carrada” de gente que foi por atacado da TSF para a antena 1, desde o Bloquista António Macedo até à Poveira Eduarda Maio. É um ver se te avias, e o parolo que pague no recibo da luz. Mas enfim; cada povo tem aquilo que merece; ou então como diz um GNR que eu conheço; isto era começar a “varrer de uma ponta à outra”. Pode ser que um dia alguém perca a cabeça. Já faltou mais!
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
Não há propaganda que vença a verdade
Num caso e noutro, o referendo e o aeroporto, os governantes mentiram, desdisseram-se, negaram o que tinha afirmado, mudaram de opinião e de certezas, voltaram atrás, disseram que não tinham dito, não era bem assim, só queriam dizer que era isto e não aquilo... Neste exercício de garantir o que não é evidente para ninguém e de negar o que disse e prometeu, Sócrates foi absolutamente excelente. Revelou a convicção de um vendedor de persianas. Portou-se com a inocência de um escuteiro. Sócrates está convencido de que pode vender o que quiser a quem quer que seja. Basta ele falar, controlar a informação, negar a evidência, garantir as suas certezas e elogiar o produto!Como os governantes não mudam de estilo nem de sistema, a não ser que a isso sejam forçados, já não vale a pena esperar pelos efeitos correctores desta semana nos seus comportamentos. Mas a população assistiu. Viu. Pôde tirar conclusões. Se, como os animais, os homens aprendessem com a experiência, esta semana teria sido gloriosa. Ficaria na história como um dos momentos altos de aprendizagem da arte de ser governado. Perder-se-ia rapidamente a confiança em Sócrates. Este Governo teria o desfavor público. A competência técnica, a seriedade e as promessas do Governo passariam a ser motivo de gargalhada e desprezo. Infelizmente, parece que os homens em geral e os portugueses em particular não são como os animais. Não aprendem. (Barreto)Entretanto, o país cai, o pessimismo dos portugueses cresce e a economia está praticamente em coma. O ano de 2008 vai ser mau e, provavelmente, péssimo. O cidadão comum sabe que depende do preço do petróleo e do que suceder na América e em Espanha. A insegurança é grande. O que, em princípio, prejudicaria Sócrates. Mas não. Sócrates vive da insegurança. Cada vez que lhe chamam autoritário, cada vez que (justamente) o acusam de pôr em perigo a democracia e a liberdade, os portugueses, como de costume, agradecem a existência providencial de um polícia. Um polícia que manda e que proíbe; e que fala pouco. Não querem a barafunda por cima da miséria; e preferem a miséria à barafunda. Num mundo instável e confuso, Sócrates sossega. O resto é acessório. (Vasco Pulido Valente)(Versão do Público de 12 de Janeiro de 2008.)
Lei do tabaco – uma leia amaricada
Desculpem lá, mas as coisas devem ser chamadas pelos nomes. Desde o princípio do ano que não se fala de outra coisa a não ser da lei antitabágica. E escrevo com a tranquilidade dos estúpidos : sou fumador. Inveterado, diria mesmo, empedernido. Várias vezes impelido a acabar com o vício para sempre, várias vezes reincidente. Meia dúzia de dias passados sobre o radicalismo legal, estou satisfeito. Diminui as doses. Portanto, concordo com a lei. Vulgarmente discordo, mas desta vez julgo que é uma boa medida. Tem apenas um pequeno problema. É excessivamente portuguesa. Quando nos dá para reformar ou é o oito ou o oitenta. E agora fomos até ao oitenta. Até os técnicos perderam a vergonha e dizem as maiores barbaridades em nome de um conhecimento científico falso. Morremos todos por causa do tabaco! Os fumadores morrem e morrem os não fumadores. Não é preciso ciência para se saber esta verdade incontornável. Morremos todos. Em dia e hora que desconhecemos, acrescenta o Génesis.Mas a campanha pela nova lei ganhou este laivo de mariquice beata. O pior dos flagelos, o maior dos males, o mais temido dos inimigos. Eis o cigarro!, a mais temível arma da al-Qaeda. As gorduras, os açúcares que antigamente – isto é, há um ou dois anos – estavam na causa de quase todas as mortes, dos enfartes, dos AVC, dos diabetes e outras doenças correlativas, não são nada, mesmo nada!, comparados com esse horror, filho do Demónio, que é o cigarro.A ciência e a baboseira ao serviço da insensatez. Por isso, não espanta que seja proibido fumar em discotecas. As mesmas onde se comercializa cocaína, drogas sintéticas, álcool aos quilolitros. Já Salazar dizia que beber vinho era dar pão a um milhão de portugueses. Ontem fui apanhado numa garagem com forte movimento de carros. O ambiente pestilento dos escapes dos automóveis. Mas era proibido fumar! Comi um frango, que deve ter ganho corpo à custa de hormonas em menos de um mês, e devo ter jantado num fast-food onde, legalmente, me serviram 50% de gordura e mais 50% de açúcar. Mas era proibido fumar!Não importa. Temos a lei que nos protege de não morrer. A imortalidade está aí, ao alcance da mão. Quem não fumar está salvo. Só os pecadores vão desta para melhor. E seguramente para o inferno.Regressámos ao tempo em que fumar uma ganza dava direito a um ano de prisão. Ao fundamentalismo. À falta de bom senso. E esta bizarria, que o coro dos falsos moralistas aplaude, retira credibilidade a uma lei que podia ser equilibrada. No meio deste cinismo puritano, vem-me à cabeça a ironia inteligente de Sophia de Mello Breyner que reconhecia que as pessoas sensíveis adoram canja de galinha, mas são incapazes de ver matar uma galinha. Já agora, que entrámos nesta alarvidade persecutória, por que não determinar o mais fácil? Exterminar as tabaqueiras. Um Governo tão corajoso para perseguir fumadores não será capaz de meter essa lança em África?! Extermine-se as tabaqueiras. Temos a imortalidade assegurada!
Francisco Moita Flores, Professor universitário
Francisco Moita Flores, Professor universitário
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
Sócrates: Que grande lata...
Estamos em plena, dura, completa desfaçatez do Primeiro-ministro, tratando-nos como tontos que acreditam em tudo que ele manda dizer-nos. É verdade que alguns jornalistas acreditam, mas bastava ser sensato, parar para pensar, para não se embarcar na operação de desinformação em curso nos últimos dias.Por exemplo: andam a contar-nos a lenda urbana que o Primeiro-ministro só decidiu sobre o referendo entre anteontem e ontem, o que é do domínio das histórias da carochinha. Reparem no vaivém que o Público descreve (sublinhados meus):2ª feira:
A possibilidade de haver referendo em Portugal, tida na segunda-feira como a mais forte inclinação do primeiro-ministro, gerou uma onda de preocupação e de estranheza nas principais capitais europeias, levando algumas delas a reagir. 3ª feira de manhã:
Ao fim da manhã de ontem, já depois dos alertas de Cavaco Silva (...), vários colaboradores de José Sócrates garantiam de novo ao PÚBLICO que a decisão sobre a realização ou não de referendo ainda não estava tomada. Tal como ao longo de toda a segunda-feira, diziam, ambos os cenários (rectificação ou referendo) estariam ainda em aberto. 3ª feira às 16.00
Por volta das 16h00, começaram a chegar ao PÚBLICO informações seguras de que Sócrates já tinha tomado a decisão: o Tratado de Lisboa teria ratificação parlamentar.Teatro puro. Alguém acredita que até ontem o Primeiro-ministro ainda não tinha tomado a decisão? Seria não só um absurdo como completamente implausível como decision making. Aliás, se fosse assim como é descrito, a leviandade seria absoluta, tudo feito em cima dos joelhos. Mas não foi, porque esta é uma matéria sobre a qual o Primeiro-ministro tem certamente, de há muito, tomada uma decisão. O que o jornal relata é teatro, desinformação, uma lenda urbana criada a partir do gabinete do Primeiro-ministro para nos passar a mensagem de que o pobre Sócrates queria muito cumprir a sua promessa eleitoral, só que o Presidente e os seus colegas europeus não o deixaram, agarraram-no à última hora, in extremis e ele, pelos mais nobres motivos, lá teve que violentar a sua vontade.A manobra era tão evidente que ontem aqui eu comparava o Primeiro-ministro àqueles que gritam "agarrem-me senão eu mato" e, quando são agarrados, se verifica que não fazem força nenhuma. Quando o escrevi, a notícia dominante era a de que afinal ia haver referendo...Há perguntas a fazer ao Primeiro-ministro, como há responsabilidades a pedir aos jornais. O Público, por exemplo, escreve:
Depois de ter ouvido as preocupações que lhe foram directamente transmitidas por alguns dos mais importantes líderes europeus, entre os quais o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, e o Presidente francês, Sarkozy, Sócrates telefonou à chanceler alemã Angela Merkel, que também se manifestou contra a convocação de um referendo, tendo acabado por tomar ontem à tarde a "decisão final" e optado pela ratificação parlamentar.Muito bem. Agora gostaria de saber em que datas o Primeiro-ministro telefonou a Gordon Brown, Sarkozy e Merkel, (a acreditar-se no jornal deveria ter sido nos últimos dois dias), ou vice-versa, e se estes dirigentes europeus tinham sido informados, e por quem, que em Portugal ia haver referendo, de modo suficientemente seguro para se sentirem alarmados e contactarem Sócrates. É que na vida real dos governos e da diplomacia, as coisas não se fazem na base de impressões, nem das leituras pelas embaixadas dos jornais. A ideia que nos querem transmitir, e que pelo menos alguns jornais acreditam, é que tudo corre entre governos e Primeiro-ministros como Sócrates, Sarkozy e Merkel ao estilo das conversas de café, estados de alma, decisões e contra-decisões, - no mesmo dia duas diferentes -, pressões e conselhos de última hora. Insisto, pensar que as coisas correm assim é do domínio das histórias da carochinha.Tudo isto suscita uma ainda maior preocupação: que homem é este que nos governa que não hesita em enganar-nos de forma tão deliberada, com tanta desfaçatez, e desprezo pelos outros? É sem dúvida um homem perigoso.
texto publicado por Pacheco Pereira no blog Abrupto
A possibilidade de haver referendo em Portugal, tida na segunda-feira como a mais forte inclinação do primeiro-ministro, gerou uma onda de preocupação e de estranheza nas principais capitais europeias, levando algumas delas a reagir. 3ª feira de manhã:
Ao fim da manhã de ontem, já depois dos alertas de Cavaco Silva (...), vários colaboradores de José Sócrates garantiam de novo ao PÚBLICO que a decisão sobre a realização ou não de referendo ainda não estava tomada. Tal como ao longo de toda a segunda-feira, diziam, ambos os cenários (rectificação ou referendo) estariam ainda em aberto. 3ª feira às 16.00
Por volta das 16h00, começaram a chegar ao PÚBLICO informações seguras de que Sócrates já tinha tomado a decisão: o Tratado de Lisboa teria ratificação parlamentar.Teatro puro. Alguém acredita que até ontem o Primeiro-ministro ainda não tinha tomado a decisão? Seria não só um absurdo como completamente implausível como decision making. Aliás, se fosse assim como é descrito, a leviandade seria absoluta, tudo feito em cima dos joelhos. Mas não foi, porque esta é uma matéria sobre a qual o Primeiro-ministro tem certamente, de há muito, tomada uma decisão. O que o jornal relata é teatro, desinformação, uma lenda urbana criada a partir do gabinete do Primeiro-ministro para nos passar a mensagem de que o pobre Sócrates queria muito cumprir a sua promessa eleitoral, só que o Presidente e os seus colegas europeus não o deixaram, agarraram-no à última hora, in extremis e ele, pelos mais nobres motivos, lá teve que violentar a sua vontade.A manobra era tão evidente que ontem aqui eu comparava o Primeiro-ministro àqueles que gritam "agarrem-me senão eu mato" e, quando são agarrados, se verifica que não fazem força nenhuma. Quando o escrevi, a notícia dominante era a de que afinal ia haver referendo...Há perguntas a fazer ao Primeiro-ministro, como há responsabilidades a pedir aos jornais. O Público, por exemplo, escreve:
Depois de ter ouvido as preocupações que lhe foram directamente transmitidas por alguns dos mais importantes líderes europeus, entre os quais o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, e o Presidente francês, Sarkozy, Sócrates telefonou à chanceler alemã Angela Merkel, que também se manifestou contra a convocação de um referendo, tendo acabado por tomar ontem à tarde a "decisão final" e optado pela ratificação parlamentar.Muito bem. Agora gostaria de saber em que datas o Primeiro-ministro telefonou a Gordon Brown, Sarkozy e Merkel, (a acreditar-se no jornal deveria ter sido nos últimos dois dias), ou vice-versa, e se estes dirigentes europeus tinham sido informados, e por quem, que em Portugal ia haver referendo, de modo suficientemente seguro para se sentirem alarmados e contactarem Sócrates. É que na vida real dos governos e da diplomacia, as coisas não se fazem na base de impressões, nem das leituras pelas embaixadas dos jornais. A ideia que nos querem transmitir, e que pelo menos alguns jornais acreditam, é que tudo corre entre governos e Primeiro-ministros como Sócrates, Sarkozy e Merkel ao estilo das conversas de café, estados de alma, decisões e contra-decisões, - no mesmo dia duas diferentes -, pressões e conselhos de última hora. Insisto, pensar que as coisas correm assim é do domínio das histórias da carochinha.Tudo isto suscita uma ainda maior preocupação: que homem é este que nos governa que não hesita em enganar-nos de forma tão deliberada, com tanta desfaçatez, e desprezo pelos outros? É sem dúvida um homem perigoso.
texto publicado por Pacheco Pereira no blog Abrupto
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