segunda-feira, 23 de junho de 2008

O comportamento dos tipos do governo é de um descaramento atroz.

Manuel Pinho, que desde o primeiro dia é uma das “araras” do governo, veio agora desmentir-se. Há três semanas replicou que, o que interessava, era o investimento de raíz (!); foi agora a Aveiro dizer – não o soubéssemos nós – que a nossa situação se degradou e os tempos seguintes serão pior. Exploram a ilusão, mascaram a realidade, mentem tanto que chegam a entrar no inadmissível. Daqui não há como esperar melhorias.
O Boletim de Execução Orçamental (Maio 08) publicado ontem confirma a degradação das contas públicas. A degradação está dissimulada mas está lá.
1 – Quem lê «nos primeiros cinco meses a receita fiscal registou um crescimento de 2,7%» também tem de ler que «para este resultado contribuiu essencialmente o crescimento registado nas receitas brutas do IRS»
2 – lê «a taxa de crescimento acumulado do IRC é de 10,6%» mas também tem de ler que «depende de diversos factores entre os quais se destacam a autoliquidação já contabilizada no corrente mês»
3 – lê «a receita não fiscal registou uma variação de 27,5%» e tem de ler que «reflecte, essencialmente, o aumento de dividendos pagos ao Estado pelo BP e CGD». Feitas as contas esses dividendos cresceram em relação ao ano passado - 46,6%. Em 2007 fora, 307 milhões. Este ano 450 milhões
4 - nas contas da Caixa Geral de Aposentações, as Pensões e Abonos aumentaram 6,7% e nas receitas, o Adicional ao IVA vale 124 milhões que correspondem a 0,8% da receita, que cresceu 1,4%
5 – os impostos indirectos decresceram 0,7% - o ISP arrecadou menos 200 milhões; o imposto sobre veículos arrecadou menos 87 milhões; o imposto sobre o tabaco menos 51 milhões... em linha! tudo continua a ser feito pelo lado da receita. Enquanto a receita cresce a 2,7%, a despesa efectiva cresce a 1,6% e a despesa corrente cresce a 3,7%


Escrito por David Oliveira do blogue pleitosapostilas

quarta-feira, 11 de junho de 2008

O cadáver adiado

A paralisação dos camionistas portugueses, que dura desde as 0:00 de segunda-feira, 9-6-2008, é apenas mais uma revolta corporativa de uma sequência que não abrandará até ao fundo do vale da depressão económica que o mundo não produtor de petróleo e de salários altos conhece e com consequências bastante mais graves em Portugal, por causa da política absolutamente errada de José Sócrates que afundou a economia nacional no absurdo contraciclo da sua política financeira autista. De que serve a alguém ter a "casa arrumada" (Sócrates, em 29-3-2008 em Mortágua) se estiver desempregado e a família passar fome?...

A paralisação é desagradável, mas quando o "desespero campeia", como refere José Maria Martins, a "desobediência civil" parece a única saída para os camionistas das micro e pequenas empresas que constituem o grosso do sector dos transportes de mercadorias. Estes mantém os protestos, apesar da falta de solidariedade dos donos das grandes frotas que controlam a ANTRAM (só a TAS do presidente da ANTRAM António Mousinho tem "uma frota própria superior a 200 veículos") e arrasam o sector no dumping dos preços dos fretes - ainda hoje, 11-6-2008, ouvia no programa Opinião Pública da SIC-Notícias uma gestora de frota dizer que uma grande transportadora, a Álvaro Figueiredo, cobrava apenas 450 euros para um frete Lisboa-Madrid. Devido à atomização e independência tradicional do sector, é muito mais difícil conseguir um acordo com as suas corporações - a associação empresarial ANTRAM e o sindicato FESTRU (ligado à CGTP) -, que não têm tropa de choque obediente com penetração e dimensões suficientes, como a CGTP-PC teve no protesto dos professores, para abafar os protestos independentes e vender os trabalhadores num acordo manhoso com o Governo. Isto é, a desmobilização dos trabalhadores só parece possível com concessões tangíveis e igualitárias, sem a troca suja de compensações políticas externas aos interesses dos próprios.

Como outras revoltas anti-sistémicas, esta nasce da base e despreza os compromissos dos sindicatos e associações oficiais que vivem na habitual cumplicidade com o poder. O poder embrulha os representantes das classes profissionais no maço da folha de apoios e os trabalhadores e elementos de base são vendidos em acordos que os prejudicam. Os compromissos dos representantes, que na verdade passaram para o lado do poder, impedem-nos de afrontar o governo e cedem, mediante a oferta de cerejas que encimam os seus bolos.

O governo de Sócrates já tem a morte marcada: o seu governo é apenas um "cadáver adiado" que nem procria.

Paradoxalmente, a economia está a ser o carrasco da sua política ultra-capitalista e de promiscuidade com os grandes grupos económicos:
o petróleo continua a subir (133,00 dólares às 12:31 de 11-6-2008), de patamar em patamar, dois passos acima e um para baixo;
o dólar deixou de descer (1,5493 dólares/euro às 12:31 de 11-6-2008) - já nem o negligente ministro das Finanças Teixeira dos Santos despreza, como fazia, a subida do petróleo acompanhada pela depreciação do dólar...
a inflação real acelera;
o Produto Interno Bruto mingua (nova descida de 0,2% no primeiro trimestre de 2008, imitando a contração de 0,1% do terceiro trimestre de 2007);
as exportações diminuem e as importações aumentam, desequilibrando ainda mais a balança comercial portuguesa;
o investimento directo estrangeiro no nosso País reduz-se radicalmente a metade, por mais que o ministro Pinho o veja a... crescer "e bem";
multiplicam-se as falências e encerramento de empresas;
o desemprego real (o dos campos e ruas do País e não o da praça de Londres ou o da avenida António José de Almeida) aumenta;
a emigração dos desempregados, sub-empregados, subsistentes e jovens licenciados explode;
o endividamento das famílias (no final de 2007, era cerca de 129% do rendimento das famílias portuguesas, o segundo valor mais alto entre os países da zona euro) agrava-se, o crédito mal-parado cresce para o valor mais elevado de sempre (e 14,7% de aumento face ao primeiro trimestre de 2007) e a poupança reduz-se;
a fome reaparece, conforme avisam o Banco Alimentar e as organizações de caridade;
até a Igreja - veja-se a posição crítica do ponderado bispo do Porto, D. Manuel Clemente, em 5-6-2008, ou as palavras duras de D. Manuel Martins em 8-6-2008 - contesta o liberal Código do Trabalho e denuncia as desigualdades sociais, a fome e a carestia na saúde.

Mas como dizia, o meu professor Jorge Vasconcellos e Sá, "estas são as boas notícias"!... As más notícias é que no Outono de 2009 estará muito pior. José Sócrates arrisca-se a levar o Partido Socialista a um resultado pior do que o dr. Almeida Santos em 1985 (20,77 %), com o Bloco de Esquerda de Louçã na posição do PRD.

A partir de agora, importa preparar o futuro do País após a desgraça socratina que nos aconteceu.
publicado no blogue portugalprofundo