segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Santanismo reciclado

Luís Filipe Menezes foi esta semana apanhado a plagiar, isto é, a copiar textos de outros autores e a apresentá-los como seus, no blogue que mantém na internet. É um episódio embaraçoso, pela apropriação alheia e pela mistificação que denota?

Não, de forma alguma, esclarece Menezes, «é uma questão irrelevante». Até porque quem fez as cópias dos textos não foi ele, mas um seu «colaborador na Câmara» que lhe dá essa «ajuda fora das horas de serviço, em casa».

O que revela que, afinal, estamos perante um duplo plágio. Luís Filipe Menezes, cujo nome aparece a assinar todos os escritos do blogue, plagia a dobrar textos já surripiados pelo seu colaborador. Muito ilustrativo.

Mas, para lá desta ‘questão irrelevante’, acreditem que vale a pena consultar o blogue de Menezes. Para apreciar a qualidade literária (e, já agora, a elevação política) dos seus textos. Os que não são copiados, claro.

O repetente candidato à liderança do PSD já nos habituara, por outro lado, a dizer uma coisa e o seu contrário. De acordo com os ventos que sopram e as conveniências de cada momento. Como há dias recordava no Público o social-democrata Castro Almeida, presidente da Câmara de S. João da Madeira, era Menezes quem, há um ano e meio, escrevia e desejava «longa vida à Ota».

Quem antes considerava «inadiável um pacto de regime entre os dois maiores partidos» e passou a criticar o pacto de Justiça porque esse tipo de acordo não diferencia o PSD do PS. Quem afirmou, em 2005, que não apoiaria uma candidatura do «prof. Cavaco Silva» e, agora, não se cansa de o apontar como exemplo a seguir. Questões irrelevantes, dirá Menezes com a sua insustentável leveza.

O que não deixa de ser curioso nesta conjuntura política, em vésperas de eleições directas no PSD, é o carinho e a simpatia que a figura de Menezes despertou subitamente em alguns meios socialistas e sectores da comunicação social, que até há pouco não lhe devotavam a menor das importâncias.

Os mesmos que abominam o populismo de Alberto João Jardim vêem no populismo secundário de Menezes um particular encanto político. Os mesmos que ridicularizavam a inconstância e a ligeireza política de Santana Lopes olham com tocante benevolência tais características no autarca de Gaia.

Menezes tornou-se, aliás, o representante do santanismo reciclado do PSD. Sem a aura partidária e o brilho pessoal de Santana. Mas com os mesmos fiéis de sempre: Marco António, Helena Lopes da Costa, Mendes Bota, Duarte Lima, Rui Gomes da Silva. Uma galeria de susto.

Publicado por JAL |José António Saraiva - director do "SOL"

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Horácio Barra e a angústia pré-férias

Às vezes, na política, como tudo na vida, mais vale deixar passar, deixar andar, fazer de conta. Era isso que devia ter feito Horácio Barra, após ter tomado conhecimento que Fernando Reis tinha conseguido (e bem) um acordo com o Ministério da Saúde, que além de garantir a manutenção das urgências médico-cirúrgicas no Hospital de Barcelos, até às dez da noite, inscreve e calendariza, pela primeira vez, num documento governamental, a construção de um novo hospital em Barcelos.

Perante isto, Horácio Barra só tinha duas saídas: congratular-se pela assinatura do acordo e dar os parabéns ao presidente da Câmara e ao Ministro do seu partido/Governo - e daí não lhe cairiam os parentes na lama - ou ficar calado, depois daquele primeiro comunicado que não dizia nem mais uma vírgula do que as notícias veículadas antes por toda a comunicação social.

Todavia, Barra não resistiu e falou. Resta saber se por vontade própria, por pressão dos seus indefectíveis, ou por força de pensar que se nada dissesse mais vergastado seria pela oposição interna que alastra cada vez mais.

A política tem destas coisas: já não basta a Barra ter de se preocupar com o adversário directo - Reis; como além de ter de aturar os seus spin-doctors, tem agora de se preocupar com uma sobra chamada Lourenço - João Lourenço: uma sombra cada vez mais omni-presente, a declarar, ao fim dois anos, que o tempo da paz podre acabou definitivamente-

Fez bem Lourenço em dar um tempo de estado de graça a Barra, mesmo depois da pesada derrota e das graves afrontas e deslealdades com que esta dirceção do PS o brindou. Lourenço esperou até ao limite. E agora, que tem a certeza que "era uma vez um Barra", saiu á luz do dia e publicamente anunciou a ruptura com esta forma de fazer oposição.

Ora, Barra, neste dilema, bem pode usar o jornal do seu compadre para dizer que nao sente os adversários internos: quanto mais o gritar, maior é o sinal de que está acossado. E quanto mais o "Verde" o esconder, mais a classe política perceberá que algo vai mal, muito mal, no reino cor de rosa.

E tanto assim é, que foi justamente por estar acossado que Barra teve de vir a público dizer uma coisa que ele próprio, mais Barcelos inteiro sabe que não é verdade.
À resposta à pergunta: onde estava e que fez o PS de Barcelos nas negociações sobre o acordo as Urgências e o novo Hospital?, Barra só conseguiu balbucinar que o PS esteve nas reuniões em que tinha de estar. A situação foi tão confrangedora que até os seus parceiros de conferência de imprensa esboçaram um sorriso amarelo!

Quando Barra acusa o PSD e o Presidente da Câmara de “aproveitamento mediático e demagógico” no que refere ao protocolo entre o Ministério da Saúde e a Câmara de Barcelos, reivindicando para o PS Barcelos o mérito na manutenção do serviço de urgências Médico-Cirúrgicas e na construção de um novo hospital, a única coisa que o ainda líder do PS está a fazer é auto-flagelar-se, é expor-se, é dar o corpo ao manifesto.

E tanto se expôs, que no mesmo dia em que os jornais timidamente davam conta dessa fuga em frente do líder do PS, no Jornal de Barcelos, um naco de prosa de Luís Manuel Cunha chamava os bois pelos nomes, ao dizer que Barra foi "mansamente" o último a saber desse acordo. Pode parecer (e é) dramaticamente duro, mas foi Horácio Barra que se pôs a jeito.

Da mesma forma que ao assegurar que as divisões e intrigas políticas dentro do PS só surgiram na comunicação social e não existem, só podemos exclamar: o pior cego é aquele que não quer ver.

Como Barra, só o líder da concelhia do Porto. Obstinadamente só, é mais papista do que o papa. Repare-se nesta sua declaração: "o governo PS está a fazer por Barcelos mais do que qualquer outro governo fez até hoje, como se prova pela construção do IPCA e do novo hospital". Ora, o IPCA está sendo construído vai para quatro ou seis anos; e a promessa do novo Hospital é uma conquista do presidente da Câmara com uma grande ajuda pelo que se pôde ler, da intermediação de Lino Mesquita Machado, o recém-empossado presidente do Conselho de Administração do hospital de Santa Maria Maior de Barcelos. O mesmo Lino Mesquita Machado que em entrevista ao Jornal de Barcelos, afirmou peremptoriamente que além do presidente da Câmara, dele próprio e do representante do governo nas negociações, ninguém, mas mesmo ninguém mais sabia destas negociações nem deste acordo.
Perante isto, pergunta-se. E agora Horácio? Também vai dizer que o camarada Lino Mesquita Machado está a fazer aproveitamento mediático? Estará, por acaso, este quadro do PS a fazer política pró PSD?
Nunca, como este ano, Horácio Barra teve tantas angústias antes de partir para férias.
E quem diria! Mesmo aqueles que o consideravam o mais credível e forte líder do PS em Barcelos, são hoje os que mais o flagelam. Porque será?